“Outros Jeitos de Usar a Boca” – Rupi Kaur

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“Outros Jeitos de Usar a Boca” – Rupi Kaur

“Outros Jeitos de Usar a Boca”, livro da poeta canadense Rupi Kaur, mergulha de forma profunda e sensível na experiência feminina, trazendo uma visão íntima das lutas e triunfos que definem a vida das mulheres. O livro mantém o estilo característico de Kaur, que combina poesia e ilustração para criar uma narrativa poderosa e visualmente brilhante.

Neste livro, Kaur mergulha fundo na experiência feminina, desde a infância até a vida adulta. Ela toca em temas pesados como abuso e dor, mas também celebra coisas como o amor materno e o poder da autodescoberta. É como se Kaur tivesse uma conversa íntima com o leitor, explorando as nuances e complexidades do ser mulher com uma sinceridade que é ao mesmo tempo tocante e inspiradora.

A autora utiliza uma linguagem direta e despojada para tocar em pontos sensíveis sobre o que significa ser mulher. Ela não hesita em abordar o sofrimento e a opressão, mas também revela a força e a resistência que surgem em resposta.

“Você tinha tanto medo
da minha voz
que eu decidi
ter medo também.”  Pg. 17

Essa citação resume a jornada de uma mulher para encontrar sua voz e autonomia em meio às adversidades. Kaur fala das amarras que as mulheres enfrentam diariamente e das batalhas que travam para romper essas correntes e buscar a liberdade.

Além dos poemas, as ilustrações minimalistas de Kaur são simples, mas muito eficazes. Elas ajudam a intensificar a mensagem dos versos e criam uma experiência de leitura que é ao mesmo tempo visual e emocional.

A obra também explora o amor materno e a complexidade das relações íntimas, refletindo sobre o que significa ter uma experiência sexual satisfatória e consensual. A autora revela a importância de conhecer o próprio corpo e de buscar relacionamentos baseados no respeito mútuo e na compreensão.

Os versos de Rupi Kaur muitas vezes abordam o corpo feminino não apenas como um objeto de desejo ou violência, mas como um espaço de poder, de reconexão e de cura. Ela transforma o corpo em território de resistência, em lugar de acolhimento e redescoberta. Isso se reflete na forma como ela fala sobre o sexo, o toque, o trauma e o amor — sem eufemismos, mas com uma beleza crua.

A estrutura do livro também colabora com essa narrativa de transformação. A divisão dos poemas não segue necessariamente um enredo linear, mas vai criando, aos poucos, um mosaico de dores e curas, derrotas e vitórias, em que muitas mulheres podem se reconhecer. O impacto da obra está justamente em sua capacidade de provocar identificação e acolhimento, ainda que trate de feridas profundas.

Claro, nem todo mundo vai gostar do estilo direto e despojado de Kaur, e alguns podem achar que a simplicidade dos poemas é um pouco superficial. Mas a verdade é que a força de Kaur está exatamente na sua habilidade de transformar a simplicidade em algo profundamente expressivo e impactante. Ela consegue comunicar sentimentos universais com poucas palavras, usando versos curtos que muitas vezes falam mais do que longos parágrafos.

Outro ponto de destaque é como Kaur cria um espaço seguro para a vulnerabilidade. Ela convida o leitor — especialmente as leitoras — a sentir sem culpa, a chorar sem vergonha e a se levantar sem medo. Seu trabalho ecoa o feminismo interseccional, sem didatismos, mas com firmeza, como quem sabe que escrever também é um ato político.

No geral, “Outros Jeitos de Usar a Boca” é uma leitura que te faz refletir e sentir, perfeita para quem quer explorar de maneira poética as dores e belezas da vida das mulheres, e a contínua luta pela liberdade e autoexpressão. É uma leitura recomendada para aqueles que desejam explorar uma perspectiva íntima e poética sobre o ser mulher. Uma obra que inspira, emociona e deixa marcas — como toda boa poesia deve fazer.

Nota: 🌕🌕🌕🌕🌕

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