“O Que o Sol Faz com as Flores”, livro da renomada poeta canadense Rupi Kaur, foi publicado em 2018. Se você já leu “Outros Jeitos de Usar a Boca”, pode se lembrar da sensação de ser tocado pela forma crua e honesta com que Rupi aborda sentimentos profundos e vulneráveis. Foi assim que eu me senti quando conheci sua escrita pela primeira vez — um impacto que me marcou bastante.

O livro é dividido em cinco partes, cada uma seguindo um estágio do ciclo de vida de uma flor — “Murchar”, “Cair”, “Enraizar”, “Crescer” e “Florescer”. Cada uma dessas seções representa um passo no processo de crescimento e transformação pessoal, mostrando como as experiências da vida nos moldam e nos fazem florescer.

“Murchar”

Marca o início com um foco na dor e na tristeza, como a flor que está perdendo suas pétalas. É onde Rupi explora os momentos difíceis e a sensação de estar no fundo do poço. Aqui, os poemas falam de términos, luto, abandono e angústia — emoções universais que muitas vezes evitamos encarar, mas que são fundamentais para que possamos compreender nossa própria dor. Kaur não tem medo de se despir emocionalmente e deixar o leitor ver suas rachaduras.

“Cair”

Segue com a sensação de colapso e queda, refletindo como enfrentamos o impacto das adversidades e a luta para encontrar algum sentido em meio ao caos. Há uma dor mais silenciosa nessa parte, acompanhada por um sentimento de desorientação. Os versos mostram uma personagem poética que se permite cair, e ao fazer isso, convida o leitor a reconhecer sua própria vulnerabilidade.

“Enraizar”

É o ponto de virada, onde o foco muda para encontrar estabilidade e força interior, como se estivéssemos começando a nos firmar e construir uma base sólida para o crescimento futuro. A autora começa a introduzir temas como autoaceitação, autoconhecimento e o poder do autocuidado. É nesse momento que a poesia se torna mais esperançosa, e vemos a protagonista começar a erguer sua cabeça para a luz, mesmo que timidamente.

“Crescer”

Mostra a flor começando a se levantar novamente, representando o processo de recuperação e o início de um novo ciclo de esperança e desenvolvimento pessoal. A linguagem se torna mais assertiva e encorajadora. A voz poética encontra beleza nas pequenas vitórias, e o livro passa a sugerir que, mesmo após períodos de dor intensa, ainda é possível sonhar, recomeçar e amar — a si mesma e ao outro.

“Florescer”

É onde tudo se completa. Aqui, a flor atinge seu pleno potencial, simbolizando a realização e a celebração do crescimento e da força conquistada após enfrentar as dificuldades. Rupi resgata temas como feminilidade, empoderamento e ancestralidade, costurando o passado com o presente para criar um novo futuro. É uma parte que inspira e emociona, pois mostra a mulher que sofreu, caiu, se curou — e floresceu.

Os poemas de Kaur continuam a brilhar pela sua simplicidade e profundidade. Em um trecho da página 213, ela escreve:

“Me levanto
sobre o sacrifício
de milhões de mulheres que vieram antes
e penso
o que é que faço
para tornar essa montanha mais alta
para que mulheres que vierem depois de mim
possam ver além.” 

Este verso reflete sobre a herança e o legado deixados por mulheres que vieram antes e a responsabilidade que cada uma de nós carrega para contribuir com o avanço dos direitos e da igualdade das mulheres. A autora, filha de imigrantes indianos, também traz à tona reflexões sobre pertencimento, identidade e raízes culturais.

As ilustrações, sempre minimalistas e expressivas, complementam perfeitamente os poemas, ampliando o impacto emocional das palavras. A simplicidade dos desenhos ajuda a destacar as mensagens profundas e universais que Rupi transmite. São imagens que não competem com o texto, mas o acompanham, como se fossem extensões visuais das emoções ali descritas.

Embora a simplicidade da escrita de Rupi possa ser vista de formas diferentes, o impacto emocional de sua poesia é inegável. “O Que o Sol Faz com as Flores” oferece uma nova perspectiva sobre o crescimento pessoal e a superação, confirmando a importância de Rupi Kaur na poesia contemporânea. Se você procura um livro que combine introspecção com uma mensagem poderosa de renovação, este é, sem dúvida, uma escolha excelente.

Nota: 🌕🌕🌕🌕🌕