“Cujo” de Stephen King
“Cujo“, o livro que exemplifica a maestria do autor em criar terror a partir de situações cotidianas. Não é à toa que Stephen King é considerado o mestre do terror, e contra esse fato não há argumentos. A história gira em torno de Cujo, um são-bernardo que, após ser mordido por um morcego raivoso, se transforma de um animal dócil em uma criatura aterrorizante.
A escrita de King é, como sempre, excepcional e detalhada. Ele sabe como ninguém criar personagens complexos e realistas, bem como para criar uma ambientação atordoante. A pequena cidade de Castle Rock, cenário frequente nas obras de King, ganha vida com seus moradores, sentindo o medo e a tensão quando Cujo começa a espalhar o terror.
Mas o que mais me impressionou foi como o King conseguiu mexer com as nossas emoções em relação ao Cujo. Antes um cãozinho tão dócil e amável, agora uma verdadeira ameaça devido à raiva. É aquele dilema de sentir pena de Cujo, vítima de uma doença cruel, e medo, ao mesmo tempo, de suas ações violentas e imprevisíveis. Uma mistura de sentimentos que o King consegue provocar com sua obra.
A construção do suspense é de arrepiar. Principalmente nas cenas em que a Donna e o Tad ficam presos no carro, enquanto Cujo está lá fora pronto para atacar. Cada página é uma corrida contra o tempo, é de tirar o fôlego e você vai ficar grudado no livro querendo saber o que vai acontecer em seguida.
“Cujo” é um livro que vai te deixar tenso do começo ao fim. King combina de maneira eficaz terror psicológico e físico, ele mostra que até o mais dócil dos cães pode se transformar num verdadeiro pesadelo. Se você é fã de terror, esse livro é leitura obrigatória.
O que torna Cujo especialmente angustiante é o fato de que ele não depende de elementos sobrenaturais — o que, ironicamente, é bastante incomum em obras de Stephen King. Aqui, o horror está em algo extremamente real: uma doença que existe e pode afetar qualquer animal. Esse toque de realidade brutal torna a leitura ainda mais perturbadora. Sabemos que aquilo poderia, sim, acontecer em qualquer bairro, em qualquer família com um cachorro de estimação. Essa proximidade com o mundo real é o que transforma o livro em uma obra tão eficaz no gênero do terror.
Outro ponto digno de nota é como King entrelaça as histórias dos personagens humanos, especialmente o casal Donna e Vic Trenton e seu filho Tad. Há também um drama conjugal em andamento, com Vic enfrentando uma crise profissional e suspeitas de traição no casamento. Esses elementos humanos tornam os personagens mais palpáveis e aumentam o impacto emocional das situações de perigo. O leitor se importa com eles, torce por sua sobrevivência e sofre junto com eles durante cada minuto preso dentro daquele carro escaldante.
A criança, Tad, é um dos elementos mais angustiantes da narrativa. Ver uma criança em perigo real, especialmente por algo tão incontrolável quanto um cachorro raivoso, é uma escolha ousada de King — e ele a conduz com sensibilidade, mas sem aliviar a tensão. O desespero da mãe, o calor sufocante, a fome e a sede — tudo isso é descrito com detalhes sufocantes, quase claustrofóbicos, que amplificam o desespero da situação.
Apesar de o livro ter sido escrito em 1981, seus temas continuam extremamente atuais: a fragilidade da vida, os perigos invisíveis que espreitam ao nosso redor e, principalmente, a maneira como situações inesperadas podem destruir até mesmo as rotinas mais estáveis. Cujo é sobre o caos que invade o cotidiano — e ninguém narra esse tipo de invasão como Stephen King.
Além disso, é interessante observar como Castle Rock funciona quase como um personagem à parte. A cidade, com seu histórico de tragédias e personagens marcantes, aparece em várias obras de King (como O Corpo e Zona Morta) e cria uma sensação de continuidade entre seus livros, mesmo quando as histórias não se conectam diretamente.
Cujo é uma leitura intensa, angustiante e emocionalmente impactante. Um livro que não depende de fantasmas, monstros ou criaturas sobrenaturais para causar medo — apenas da ideia de que o familiar pode se tornar mortal. Stephen King prova, mais uma vez, por que é o mestre indiscutível do terror: ele transforma o ordinário em extraordinariamente assustador.
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